Se Eu Morresse Amanhã!
Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
II (Fernando Pessoa)
Só uma cousa me apavora
A esta hora, a toda hora:
É que verei a morte frente a frente
Inevitavelmente.
Ah, este horror como poder dizer!
Não lhe poder fugir. Não podê-lo esquecer.
E nessa hora em que eu e a Morte
Nos encontrarmos
O que verei? O que saberei?
Horror! A vida é má e é má a morte
Mas quisera viver eternamente
Sem saber nunca(...) isso que a morte traz (...)
Que o tempo cesse!
Que pare e fique sempre este momento!
Que eu nunca me aproxime desse
Horror que mata o pensamento!
Envolvei-me, fechai-me dentro em vós
E que eu não morra nunca.
O BICHO
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
XXVI (Fernando Pessoa)
É um mistério o existir, o ser, o haver
Este é o problema que perturba mais.
O que é existir – não nós ou o mundo –
Mas existir em si?
Quando às vezes penso em meu futuro
Abre-se de repente (um largo) abismo
Perante o qual cambaleia o ser.
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Quadra
Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.
O DESCONCERTO DO MUNDO(Camões)
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
SONETO DE SEPARAÇÃO
Vinícius de Morais
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
"Meus amigos são todos assim:
metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele,
mas pela pupila,
que tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
Escolho meus amigos pela cara lavada
e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto,
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou,
pois vendo-os loucos e santos,
bobos e sérios,
crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão
imbecil e estéril"
Ser feliz
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?",
A Idade de Ser Feliz (Mário Quintana)
Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realiza-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encontrar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fases douradas em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Sonhei esta existência de venturas,
Sonhei que o mundo era só d’amor,
Não pensei que havia amarguras
E que no coração habita a dor.
Sonhei que m’afagavam as ternuras
De leda vida e que jamais pallor
Marcou na face humana as desventuras
Que a lei de Deus impôs com rigor
Sonhei tudo azul e cor de rosa
E a sorte ostentando-se furiosa
Rasgou o sonho formoso que tive
Sonhando sempre eu não tinha sonhado
Que n’esta vida sonhava-se acordado,
Que n’este mundo a sonhar se vive.
Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito.
Não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.
Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
e calma também.
Na chuva de cores
da tarde que explode,
a lagoa brilha.
A lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar.
Eu vi a lagoa...
Soneto XI (Luís Vaz de Camões)
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Marco Antônio de Almeida)
Chinelos nos dedos, paletó puído
Cabeça branca, quepe da corporação
Nos enterros e procissões o apito
Abria caminho em qualquer aglomeração
Gravata no desnudo peito e a calça caindo
Figura símbolo de um microscosmo nação
Ah se eu soubesse contar as histórias todas
Que meu coração tão bem sabe guardar
Contaria uma história à altura
Desse personagem tão rico
Em sua loucura tão inocente
Para que nunca seja esquecido
Nosso único e comum Plenamente.
(Marco Antônio de Almeida)
Os seus
Silenciar-me em toda parte que for
Cantar junto “Quase sem Querer”
Voltar a acreditar em Deus
E pedir a Ele sorte no amor
Sim – preciso me amar mais!
Olhar no espelho o meu rosto
E me certificar de que estou aqui
Porque por mais que eu tente
Que eu cante
Escreva ou invente
Não consigo traduzir o que sinto
Quando vejo o seu olhar...
Nem quero!
Pois o encanto, só o encanto torna visível.
O que não se pode explicar...
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
Meus brinquedos
De repente
Ao lembrar dos brinquedos queridos
Que ficaram esquecidos
Dentro do armário
Me bate uma saudade
Me bate uma vontade
De voltar no tempo
De voltar ao passado
Mas nada acontece
Nada parece acontecer
E eu choro
Choro como o bebê que fui
E a criança que quero voltar a ser
Não quero crescer!
Vive
(Ferreira Gullar)
Sofreguidão. Mas vive a vida inteira
Em seus momentos todos, de maneira
Que gozes tudo o que ela tem de bom!
Ama, canta, sorri, desde a primeira
Manhã da vida à última, num tom
Festivo! Que a existência é como um som,
Que se esvai no silêncio.... é passageira!
Se a tristeza de alguém surgir em meio
A essa alegria que em teus olhos arde,
Lembra que um dia hás de também ser triste.
E ri. E esquece o sofrimento alheio,
Para não vires chorar méis tarde,
E maldizer as vezes que não riste!
Profissão de Fé (Olavo Bilac)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito
Há uma música do povo,
Nem sei dizer se é um fado-
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado...
Ouvindo-a sou quem seria
Se desejasse fosse ser...
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver...
E ouço-a embalado e sozinho...
É isso mesmo que eu quis...
Perdi a fé e o caminho...
Quem não fui é que é feliz.
Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção...
Que a minha alma já não chora
Nem eu tenho coração...
Sou uma emoção estrangeira,
Um erro de sonho ido...
Canto de qualquer maneira
E acabo com um sentido!
Abílio
(Bárbara J.B. Santos)
Nome bonito, nome perfeito
É o nome da minha escola
Que trago dentro do peito
Por amar a minha escola
Trato ela com respeito
Professores, funcionários
Alunos e diretor
Todos trabalham unidos
Por ela dedicam amor
Escola boa, escola perfeita
Escola linda, mãe gentil
Escola Abílio é um lírio
Grandioso e varonil
Todos que nesta escola estudam
Dela não conseguem esquecer,
Pois a nossa escola Abílio
Só nos faz engrandecer
Por isso essa escola
Respeitarei até morrer.