quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poesias - Sarau

Se Eu Morresse Amanhã!
Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


II (Fernando Pessoa)

Só uma cousa me apavora

A esta hora, a toda hora:

É que verei a morte frente a frente

Inevitavelmente.

Ah, este horror como poder dizer!

Não lhe poder fugir. Não podê-lo esquecer.

E nessa hora em que eu e a Morte

Nos encontrarmos

O que verei? O que saberei?

Horror! A vida é má e é má a morte

Mas quisera viver eternamente

Sem saber nunca(...) isso que a morte traz (...)

Que o tempo cesse!

Que pare e fique sempre este momento!

Que eu nunca me aproxime desse

Horror que mata o pensamento!

Envolvei-me, fechai-me dentro em vós

E que eu não morra nunca.


O BICHO

VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira


XXVI (Fernando Pessoa)

Mais que a existência

É um mistério o existir, o ser, o haver

Este é o problema que perturba mais.

O que é existir – não nós ou o mundo –

Mas existir em si?

Quando às vezes penso em meu futuro

Abre-se de repente (um largo) abismo

Perante o qual cambaleia o ser.


Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Quadra

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

Fernando Pessoa


O DESCONCERTO DO MUNDO(Camões)

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.


SONETO DE SEPARAÇÃO

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Amigos

"Meus amigos são todos assim:

metade loucura, outra metade santidade.

Escolho-os não pela pele,

mas pela pupila,

que tem que ter brilho questionador

e tonalidade inquietante.

Escolho meus amigos pela cara lavada

e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou o colo,

quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto,

não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim:

metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios,

daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,

mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice.

Crianças,

para que não esqueçam o valor do vento no rosto,

e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou,

pois vendo-os loucos e santos,

bobos e sérios,

crianças e velhos,

nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão

imbecil e estéril"

Fernando Pessoa



Ser feliz

Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…

Fernando Pessoa



Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Fernando Pessoa



Retrato (Cecília Meireles)

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?",



A Idade de Ser Feliz (Mário Quintana)

Existe somente uma idade para a gente ser feliz,

somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos

e ter energia bastante para realiza-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.


Uma só idade para a gente se encontrar com a vida

e viver apaixonadamente

e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fases douradas em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança

e vestir-se com todas as cores

e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.


Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente

chama-se PRESENTE

e tem a duração do instante que passa.



O último Poema (Manuel Bandeira)

Assim eu quereria meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.



Sonho (Fernando Pessoa)

Sonhei esta existência de venturas,

Sonhei que o mundo era só d’amor,

Não pensei que havia amarguras

E que no coração habita a dor.

Sonhei que m’afagavam as ternuras

De leda vida e que jamais pallor

Marcou na face humana as desventuras

Que a lei de Deus impôs com rigor

Sonhei tudo azul e cor de rosa

E a sorte ostentando-se furiosa

Rasgou o sonho formoso que tive

Sonhando sempre eu não tinha sonhado

Que n’esta vida sonhava-se acordado,

Que n’este mundo a sonhar se vive.


A lagoa (Carlos Drummond de Andrade)

Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito.
Não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.

Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
e calma também.

Na chuva de cores
da tarde que explode,
a lagoa brilha.
A lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar.
Eu vi a lagoa...



Soneto XI (Luís Vaz de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Mistura de andarilho e mendigo

(Marco Antônio de Almeida)

Criatura de estribilho e refrão

Chinelos nos dedos, paletó puído

Cabeça branca, quepe da corporação

Nos enterros e procissões o apito

Abria caminho em qualquer aglomeração

Gravata no desnudo peito e a calça caindo

Figura símbolo de um microscosmo nação

Ah se eu soubesse contar as histórias todas

Que meu coração tão bem sabe guardar

Contaria uma história à altura

Desse personagem tão rico

Em sua loucura tão inocente

Para que nunca seja esquecido

Nosso único e comum Plenamente.



Poeminha de amor nº1

(Marco Antônio de Almeida)

Preciso fechar os olhos para ver

Os seus

Silenciar-me em toda parte que for

Cantar junto “Quase sem Querer”

Voltar a acreditar em Deus

E pedir a Ele sorte no amor

Sim – preciso me amar mais!

Olhar no espelho o meu rosto

E me certificar de que estou aqui

Porque por mais que eu tente

Que eu cante

Escreva ou invente

Não consigo traduzir o que sinto

Quando vejo o seu olhar...

Nem quero!

Pois o encanto, só o encanto torna visível.

O que não se pode explicar...



Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes



EpílogosGregório de Matos

Que falta nesta cidade?................Verdade

Que mais por sua desonra?...........Honra

Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.

O demo a viver se exponha,

Por mais que a fama a exalta,

numa cidade, onde falta

Verdade, Honra, Vergonha.

E que justiça a resguarda?.............Bastarda

É grátis distribuída?......................Vendida

Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,

o que El-Rei nos dá de graça,

que anda a justiça na praça

Bastarda, Vendida, Injusta.



Meus brinquedos

De repente

Ao lembrar dos brinquedos queridos
Que ficaram esquecidos
Dentro do armário
Me bate uma saudade
Me bate uma vontade
De voltar no tempo
De voltar ao passado
Mas nada acontece
Nada parece acontecer
E eu choro
Choro como o bebê que fui
E a criança que quero voltar a ser
Não quero crescer!

Clarice Pacheco



Vive

(Ferreira Gullar)

Faze como eu: esbanja a vida com

Sofreguidão. Mas vive a vida inteira

Em seus momentos todos, de maneira

Que gozes tudo o que ela tem de bom!

Ama, canta, sorri, desde a primeira

Manhã da vida à última, num tom

Festivo! Que a existência é como um som,

Que se esvai no silêncio.... é passageira!

Se a tristeza de alguém surgir em meio

A essa alegria que em teus olhos arde,

Lembra que um dia hás de também ser triste.

E ri. E esquece o sofrimento alheio,

Para não vires chorar méis tarde,

E maldizer as vezes que não riste!



Profissão de Fé (Olavo Bilac)

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito



O louco (Fernando Pessoa)

Há uma música do povo,

Nem sei dizer se é um fado-

Que ouvindo-a há um ritmo novo

No ser que tenho guardado...

Ouvindo-a sou quem seria

Se desejasse fosse ser...

É uma simples melodia

Das que se aprendem a viver...

E ouço-a embalado e sozinho...

É isso mesmo que eu quis...

Perdi a fé e o caminho...

Quem não fui é que é feliz.

Mas é tão consoladora

A vaga e triste canção...

Que a minha alma já não chora

Nem eu tenho coração...

Sou uma emoção estrangeira,

Um erro de sonho ido...

Canto de qualquer maneira

E acabo com um sentido!



Abílio

(Bárbara J.B. Santos)

Abílio Raposo Ferraz Júnior

Nome bonito, nome perfeito

É o nome da minha escola

Que trago dentro do peito

Por amar a minha escola

Trato ela com respeito

Professores, funcionários

Alunos e diretor

Todos trabalham unidos

Por ela dedicam amor

Escola boa, escola perfeita

Escola linda, mãe gentil

Escola Abílio é um lírio

Grandioso e varonil

Todos que nesta escola estudam

Dela não conseguem esquecer,

Pois a nossa escola Abílio

Só nos faz engrandecer

Por isso essa escola

Respeitarei até morrer.