sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Uma recordação... Uma poesia

Uma recordação...Uma poesia


Você já se imaginou escolhendo apenas uma recordação para torná-la imortal? Não? Pois é, tive que fazer isso e espero não ter sido injusta com todos os outros momentos que para mim são eternos.

Não me perguntem o dia ou mês que o fato aconteceu, porém o ano foi 2009, algum tempo depois que me tornei a professora responsável pela Sala de Leitura da escola Abílio Raposo Ferraz Júnior.

E o fato?... Vamos a ele:

Diógenes é um menino franzino,moreno, com um ar de esperto, mas também sofrido.Era um desses alunos considerado por muitos como “problema”: desobediente, não participava das aulas, não fazia lição, inquieto, briguento e muitas vezes desrespeitoso com os professores. (Perdoem a troca do tempo verbal, mas este garoto não estuda mais nesta unidade, então não sei se hoje seu comportamento é o mesmo daqueles dias).Ele estava cursando pela segunda vez a 5ª série, e seu comportamento permanecia o mesmo.

Era um alívio quando ele faltava e quando vinha era mandado para fora da sala de aula frequentemente e encaminhado para a direção por algo que aprontava... E como ele aprontava!

Em uma dessas idas à sala do diretor, este pediu para que ele terminasse a tarefa na Sala de Leitura. Chegando aqui (é que estou nela agora, em um momento vago em meu trabalho) ele pediu pra ler uma poesia, então, locou um livro, fez a lição e foi embora.

No dia seguinte, ele retornou, entregou o livro e pediu para pegar outro. Deixei. E o Diógenes fez isso durante todo o mês. Sempre que ia ao banheiro, tomar água ou qualquer outro motivo que o retirasse da sala de aula ele vinha até mim e pedia pra ficar na Sala de Leitura lendo livros de poesias(obviamente muitas vezes tinha que pedir e até mesmo mandar ele voltar para a sala de aula). Quando ficava aqui, lendo, muitas vezes ele não entendia o significado das palavras e então falava: “Dona, olha que bonito, mas eu não sei o que é!”. Aí, eu o ajudava a entender o texto.

Um dia ele perguntou o que eu fazia no computador, contei que nele estavam armazenados todos os dados dos livros. Perguntei se ele sabia usar, ele respondeu: “ Mais ou menos.”. Resolvi fazer um convite, disse que se ele criasse uma poesia eu o deixaria digitá-la e imprimi-la. Ele saiu sorrindo e correndo.

Não precisei esperar até o dia seguinte para vê-lo novamente. No intervalo ele entrou na Sala de Leitura com uma folha de caderno na mão e disse: “ Pronto Dona, eu fiz uma poesia pro Cróvis!” ( Clóvis é o nome do diretor desta escola, conhecido por sua postura e respeitado – até mesmo temido – pelos alunos).

Então, como havia proposto, ele leu para mim o que tinha escrito, sentou-se em frente ao computador, digitou seus pequenos versos,imprimiu e com um sorriso enorme e os olhos brilhantes disse: “Obrigado! Vô levá pro Cróvis!”

E assim, saiu desta sala com os olhos brilhantes, um sorriso enorme e uma folha sulfite na mãozinha aquele menino tão miudinho e tão “complicado”. Fiquei observando ele caminhar em direção a sala do diretor, mas desta vez, não para ser advertido, mas sim para lembrar-nos que os pequenos gestos valem à pena e que são eles que nos enchem de orgulho.


Natalia da Costa